terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Ela só precisava alimentar o coração.

“Ela só precisava alimentar o coração”
Por Carlo de Lima

Roberta estava cansada da vida que estava levando. Todo dia era a mesma coisa, acordava cedo e saia para trabalhar e quando voltava a solidão a aguardava feito um cão de guarda.
Apesar de mostrar um sorriso forçado para esconder sua tristeza, no fundo, sonhava em viver um grande amor. Já tivera alguns relacionamentos que não passaram de aventuras passageiras.
O dia estava chuvoso e o ônibus andava devagar devido ao engarrafamento de automóveis que pareciam não sair do lugar.
-Pelo jeito hoje vai ser difícil chegar em casa- comentou uma jovem que se encontrava sentada no mesmo banco do ônibus em que Roberta estava.
-Você tem razão.
-O jeito é continuar com minha leitura para ocupar o tempo e alimentar meu coração.
-Alimentar o coração? Perguntou-lhe Roberta em tom de admiração.
-Sim! Você não sabia que o coração precisa de alimento? Ah, nem me apresentei. Meu nome Luiza.
-Prazer Luiza. Chamo-me Roberta. Mas por favor, me fale mais sobre esse negócio de alimentar o coração.
Luiza tirou um livro da bolsa e mostrou para a companheira de viagem.
-Esse livro que se chama “Ninguém é de ninguém” da escritora Zibia Gasparetto é um livro que alimenta meu coração. Ele fala de amor e nos ensina a amar com inteligência e sem apego.
Roberta se interessou pelo assunto e queria saber mais sobre o que dizia o livro. Afinal, estava sofrendo muito pela falta de um amor em sua vida.
-Já sofri muito por amor Roberta. Só eu sei as noites de solidão que passei e as frustrações que colecionei. Meus dias eram tristes e sem graça. Achava que minha vida não teria sentido sem um amor. Até que um dia uma amiga por me ver tão pra baixo aconselhou-me a cuidar mais de minha autoestima e me deu esse livro.
Roberta ouvia atentamente aquela jovem mulher e via nela a sua própria história. Conhecia na pele a dor que ela descrevera com tanta sinceridade.
-Eu achava que para acabar com minha carência afetiva precisava arrumar alguém. Passava dias e dias sonhando e esperando a chegada de um amor que me tirasse da solidão em que vivia. Porém, conforme lia o livro, começava a entender que eu estava enganada e que não adiantaria arrumar alguém enquanto não aprendesse a me amar primeiramente. Entendi que solidão não é a falta de alguém, mas sim, a falta da gente mesmo na vida da gente. E isso começou a fazer toda a diferença.
As palavras de Luiza caiam como uma luva para Roberta. O que a jovem lhe dizia clareava suas ideias e a fazia refletir sobre o que ela vinha passando em sua vida. Assim como Luiza ela também acreditava que precisava de alguém para ser feliz e acabar enfim com sua solidão. De alguma forma ela sentia que Luiza estava certa e que ela precisava cuidar mais de si e deixar de fazer ilusões a respeito do amor.
-Acredite Roberta, esse livro me ajudou muito a curar a dor da carência que me consumia os dias. Não que ele tenha uma resposta pronta para tudo, mas porque ele nos faz refletir e nos convida a renovar as atitudes.
-Esse livro deve ser mesmo bom.
-Com certeza e além domais penso que a Vida sempre dá um jeitinho para nos ajudar. Às vezes ela coloca um livro em nosso caminho ou um amigo que nos traz a palavra certa, enfim, a ajuda de um jeito ou de outro chega ao nosso encontro.
Roberta vendo que seu ponto estava próximo levantou-se e agradeceu pelas palavras confortadoras que aquela jovem lhe dissera. Porém, antes de descer do ônibus voltou-se para Luiza e lhe disse sorrindo:
-Agora entendi o que você quis dizer sobre alimentar o coração e te confesso que o meu está morrendo de fome.

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