domingo, 2 de fevereiro de 2020

O fantasma da casa.


O fantasma da casa

-Desculpe seu José, a casa é grande e até bonita, mas no momento não estou interessado em comprá-la.
Assim que o visitante que viera olhar a casa saiu, seu José, intrigado com mais uma desistência, perguntava a si mesmo porque não conseguia vender aquela casa que além de grande era bem vistosa.
Considerava-se um ótimo corretor e vendera com facilidade todas as casas que a imobiliária colocava a sua disposição. Mas a casa de Mauricio nem com reza brava.
Até que pretendentes não faltavam, porém, todos que viam visitar a casa, após passar algum tempo dentro dela, saiam apressados e nunca mais voltavam.
Por ver tanta desistência, teve um dia que seu José não se conteve e chamou de canto uma mulher que viera visitar a casa em exposição e perguntou-lhe a queima roupa:
-Desculpe-me a curiosidade minha senhora, mas porque está saindo tão apressada da casa?
A senhora meio sem jeito querendo disfarçar sua contrariedade respondeu de pronto:
-A casa é bonita, espaçosa e confortável. Mas tem algo dentro dela que incomoda. Não sei explicar direito.
A senhora ajeitou os cabelos, agradeceu a atenção do corretor e partiu em passos rápidos.
Os dias se passaram e nada de seu José conseguir vender a casa. Já estava quase desistindo quando numa conversa com dona Maria uma senhora que vendia pipoca em frente à imobiliária o fez mudar de ideia.
-Olha seu José, isso é coisa de espírito- disse dona Maria em tom de mistério.
-Será mesmo, dona Maria?
-Pelo o que o senhor me falou a casa tem tudo pra ser vendida e, além domais, o senhor tem fama de ótimo vendedor. Não vejo razão pra que a casa fique assim encalhada a não ser coisa de espírito.
-Mas porque a senhora acha isso, dona Maria- perguntou-lhe seu José já intrigado com o caso da casa.
-Lá perto de onde moro tem um centro espírita que vou vez em quando e já ouvi histórias de espíritos que não querem abandonar a antiga casa onde moraram por muitos anos. São espíritos apegados aos bens materiais e que não aceitam de jeito nenhum que outras pessoas tomem posse do que eles ainda acham que são donos.
-Faz sentido dona Maria. Não sou chegado a essas coisas de espíritos, mas não vejo outra explicação pra não conseguir vender a bendita da casa.
Dona Maria notando o interesse do corretor pensou duas vezes e em seguida lhe disse:
-Se o senhor quiser tenho uma amiga que é médium e posso levá-la na casa para ver o que está acontecendo.
-Claro que quero dona Maria. Vender essa casa já se tornou pra mim uma questão de honra.
A semana passou voando. Seu José estava lendo o jornal quando viu se aproximar do portão dona Maria e sua amiga.
-Bom dia dona Maria.
-Bom dia seu José. Essa é Joana a amiga da qual falei.
-Entrem, por favor.
Após se acomodarem seu José contou para Joana o que estava se passando com a venda da casa.
Joana apesar de ser uma jovem mulher já tinha boa experiência com esses assuntos de espíritos. Desde criança participava junto à mãe de sessões mediúnicas.
-Vou ser bem objetiva seu José- disse a médium –o senhor não consegue vender a casa porque realmente tem um espírito que vivi aqui.
Seu José se arrepiou todo, porém, pediu para a mulher continuar.
-É um espírito de uma mulher aproximadamente de uns trinta anos, bonita, mas de olhar triste.
-A senhora quer-me dizer que é esse espírito de mulher quem espanta as pessoas que veem visitar a casa?
-As pessoas até sentem a presença dela. Só que não é ela quem espanta ninguém. Na verdade, seu José, ela também queria ir embora só que se sente presa à energia do marido.
-Como assim, Joana? Do marido?
-Sim.
-Mas seu Mauricio me parece ser uma pessoa tão boa porque razão prenderia o espírito da esposa morta dentro de casa?
Joana fez um breve silêncio e prosseguiu com sua explicação:
-Ele pode até ser um marido bom, só que não aceita a morte da mulher. Através de seu sofrimento e revolta ele acaba prendendo a esposa que ainda não tem conhecimento da vida espiritual e por isso não consegue se livrar da energia de apego emanada por ele.
Seu José coçou a cabeça como querendo entender o que dizia a médium e em seguida perguntou:
-Mas nesse caso o que se pode ser feito para resolver a situação da casa e da esposa morta do seu Mauricio?
-O melhor a se fazer- respondeu Joana- é conversar com o marido e lhe ajudar a aceitar a morte da esposa.
-Eu tenho o número do celular dele se a senhora quiser posso chamá-lo agora mesmo.
-Pode chamá-lo. Assim resolveremos de vez a situação.
Após alguns minutos Mauricio chegou e logo foi colocado a par de tudo que estava acontecendo.
-Sei que você ama sua esposa e não é preciso deixar de amá-la, porém, é necessário que você entenda e respeite o momento dela. A morte- explicou-lhe Joana- não é o fim, apenas uma mudança de endereço. Além domais Mauricio, seu sofrimento só dificulta a passagem de sua mulher que já sofre por não ter conhecimento da vida espiritual.
Lágrimas corriam dos olhos de Mauricio. Desde o falecimento de Clarisse, sua esposa, não tocara mais no assunto de modo tão profundo. Amava ela demais e não conseguia aceitar sua morte prematura.
-Entenda Mauricio que sua revolta não vai trazer sua esposa de volta e que Deus não a levaria se não fosse o tempo dela. Tudo está certo no Universo, não cai uma folha de árvore sem o consentimento do Criador.
Entre soluções e lágrimas Mauricio perguntou:
-Mas Joana isso quer dizer que nunca mais vou ver minha esposa?
-Quando duas pessoas se gostam de verdade não tem tempo, distância ou dimensão que impeça esse amor de continuar. Nada destrói os laços do amor verdadeiro. No tempo certo você vai se encontrar sim com sua esposa. Mas por hora, é preciso que você respeite sua passagem e a deixe partir.
Mauricio enxugou as lágrimas e mais calmo agradeceu as palavras da jovem médium.
Clarisse que ouvia atentamente a conversa aproximou-se do marido e deu-lhe um abraço forte e comovido. Um clarão se fez no teto da casa e mãos amigas lhe puxaram carinhosamente.  O clarão se desfez e Clarisse seguiu rumo a luz.
Uma semana já tinha se passado após a partida de Clarisse. Seu José chegou eufórico na imobiliária e entrando na sala do chefe foi logo dizendo:
-Finalmente consegui vender a casa seu Antonio.
-Que bom! Então vamos comemorar. Afinal não sei por que cargas da água essa venda foi tão difícil.
Seu José nada disse. Mas no fundo só ele sabia o trabalhão que teve para espantar o fantasma  que o impedia de fechar negócio.


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