quarta-feira, 6 de maio de 2015

Depoimento de um falecido.


Morri! E agora?
Foi a primeira pergunta que fiz ao chegar na Terra dos mortos. Mortos?!
Não. Afinal, mesmo sabendo que já tinha feito a passagem, podia apalpar a mim mesmo como se estivesse ainda entre os vivos.
O frio me incomodava e a fome me apartava o estômago. Mas que raio de morte é essa onde continuamos a sentir as mesmas sensações de quando estávamos na matéria?
Havia alguma coisa errada. Teria eu enlouquecido?
Perdido em meus pensamentos, avistei ao longe um vulto que suavemente se aproximava de mim. Seria mais um louco sem eira nem beira como eu?
-Não, meu amigo, respondeu-me de imediato o tal estranho que pareceu ler meus pensamentos.
Assustado e curioso ao mesmo tempo lancei-lhe, sem titubear, a pergunta que me consumia por dentro:
-Onde estou? Por acaso estou sonhando?
-Você não está sonhando. Na verdade, você está mais acordado do que nunca. Simplesmente fez a passagem, ou seja, desencarnou.
-Quer dizer que estou morto?
-Morto não fala, não sente frio e nem fome. Concorda?
-Mas se morri, cadê o céu de que tanto fala as religiões do mundo? E onde está Jesus que me garantiram ia me receber de braços abertos?
-Céu ou inferno são apenas estados da alma. A vida, tanto aqui como entre os viventes da matéria, é muito parecida. Modifica-se apenas em alguns aspectos conforme o nível de evolução de seus habitantes. E Jesus, meu caro amigo, sempre esteve e estará contigo dentro do seu coração.
-Quer dizer que a morte como muitos acreditam não existe?
-A morte é como uma troca de vestimenta, mas não a extinção da vida como supõe alguns desavisados. Como vê tudo continua a existir após a inevitável passagem. Aceite e recomece pautando sua existência na base do bem.
-Confesso que fiquei surpreso; mas não com o fenômeno da morte em si, porém com tudo que encontrei aqui. De certo modo, nada mudou ou pelo menos quase nada. 
-E você tem razão. A morte não é sinônimo de milagres e não transforma ninguém em santo de uma hora para outra. Continuamos a ser o que éramos antes de morrer. O que vale dizer que para onde quer que iremos sempre levaremos a nossa verdade como eterna companhia.
-Pelo jeito já vi que tenho muito trabalho pela frente.
-Sem dúvida!

Carlinhos de Aruanda

Nenhum comentário:

Postar um comentário