sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O bem nem sempre está onde imaginamos.


Dona Matilde caminhava pela praça quando decidira sentar-se num banco para esperar a filha que viria a seu encontro.
Educadamente, cumprimentou um senhor que já estava sentado.
Marcos refletia sobre a vida e seus métodos de ensino. Não compreendia certas coisas, mas sabia que tudo acabava bem no final.
-Hoje está um pouco frio- disse-lhe dona Matilde interrompendo suas divagações.
Gentilmente, Marcos confirmou e deu vazão a conversa. Do nada aquela senhora começou a contar-lhe sua história de vida. Falou-lhe sobre suas decepções amorosas e também de alguns fatos que ainda estavam vivos em sua memória.
-Fui muito infeliz no casamento. Meu marido era homem rude e avesso aos compromissos domésticos. Não se importava com os filhos e era ausente no que diz respeito as necessidade naturais de uma mulher.
Marcos a ouvia atentamente.
-A certa altura- prosseguiu dona Matilde- ele acabou se envolvendo com uma certa mulher. Me abandonou com filhos para criar e foi morar com ela. Assustada e desamparada, antes dele partir, perguntei-lhe em tom de súplica para onde ele iria, o que me respondeu de pronto e secamente: vou para o inferno.
Dona Matilde fez breve silêncio como se estivesse a remontar as peças de um passado distante e completou ironicamente:
-E foi mesmo. Digo isto, porque depois que ele foi morar com ela acabou morrendo nas mãos de um namorado da filha da tal mulher.
-E o que a senhora fez depois?
-Deixei tudo que tinha, peguei meus filhos e me bandeei para a cidade de São Paulo. Meus filhos eram ainda pequenos e por insistência de meu pai acabei me casando de novo.
Dona Matilde fitou o firmamento como a buscar justificativas:
-Me casei de novo, mas não por amor e sim por necessidade. Porém, como a conveniência não esconde a verdade de cada um, não tardou a aparecer os problemas de um casamento sem afeto. Vim a saber, através de meu filho mais velho, que o homem que enfiei dentro de casa, intentava abusar das minhas meninas. Sem pestanejar o coloquei para correr.
Marcos a olhava com respeito e admiração. Buscava mensurar as dificuldades que ela tinha passado na vida.
-Olha, dona Matilde, até compreendo que sua vida amorosa não tenha sido fácil. Por outro lado, porém, penso que a senhora deve dar graças a Deus por ele ter tirado esses homens do seu caminho. Muitas vezes, ficamos tristes pelas coisas não terem saído como imaginávamos. Mas com o tempo percebemos que tudo foi apenas o melhor que pôde ter sido. Certamente, a senhora não seria feliz ao lado deles.
-Você tem razão, meu filho, hoje em dia sei que se eu continuasse naquela situação, certamente, nem estaria aqui para lhe contar minha história. De fato, Deus escreve certo por linhas tortas.
Marcos consultou o relógio e viu que já estava na hora de partir. Despediu-se dela e se pôs a caminhar.
Enquanto andava pela praça, refletia sobre tudo que dona Matilde havia lhe contado:
"Quantas vezes não nos iludimos acreditando que a nossa felicidade estava justamente naquilo que a vida nos tirou?! Ficamos revoltados e até brigamos com Deus por o considerar injusto. No entanto, com o passar do tempo, percebemos que a vida só estava trabalhando para o nosso bem e que tudo aquilo que desejávamos ávidamente era, na verdade, o caminho para um sofrimento maior.
Ao longe, Marcos avistou a figura miúda daquela simpática senhora. Agradeceu por confiar-lhe sua história de vida e reconheceu a importância de ouvir mais as pessoas. Pois toda experiência de vida é tesouro incalculável para o cofre do coração!

Carlinhos Lima

Nenhum comentário:

Postar um comentário