quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A história de Cássio.

Nasci, em minha última encarnação, numa familia muito pobre.
Meu nome era Cássio. Desde criança, apesar de ter um corpo masculino, eu já demonstrava alguns trijeitos femininos. O que logo chamou a atenção dos meus familiares, que decepcionados com o meu estranho comportamento, tratavam-me com desprezo e muita rejeição.
Meu pai era alcoólatra inveterado, além de me espancar diariamente, descontava toda sua raiva e desgosto encima da minha mãe.
Era muito comum ouvir seus berros de revolta, quase sempre, se referindo ao meu jeito diferente de ser.
Quando atingi meus quinze anos, como era de se esperar, me apaixonei por um amiguinho de classe. Nem é preciso dizer o reboliço que tal fato causou. Quase fui expulso da escola. A repressão aumentava cada vez mais dentro de casa.
Era insuportável a convivência com meus familiares. Na rua eu era sempre motivo de zombaria e chacota. De vez enquando, chegava até ser espancado por algum garoto rebelde.
Com o passar dos anos, o desprezo e a solidão, se tornaram minhas únicas companhias.
Talvez, por me sentir muito sozinho, acabei me entregando ao vicio da bebida. Fiz amizade com Sheila, uma prostituta que, talvez, por dó, acolheu-me em sua casa.
Foi com ela que conheci o submundo da prostituição e da droga. Cai no abismo do sexo sem responsabilidade onde acabei contraindo o virús da aids. Aí sim, começou o meu verdadeiro sofrimento.
Sheila, minha única companheira, acabou sendo assassinada por uma rival. Sofri muito a dor da separação.
Só e desesperado, passei meus últimos dias de sofrimento num quarto de pensão. Se não fosse a caridade de alguns bons samaritanos, já teria morrido de fome há muito tempo. Porém, a rejeição e o abandono foram os verdadeiros vírus a consumir a minha única gota de vida.
Certa noite, de muito frio, quando ainda me encontrava sozinho em meu isolado quartinho e entregue as traças, acabei desencarnando!
Carlinhos de Aruanda

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