segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

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A consulta
Capítulo do livro "Coração rebelde
Por Carlinhos de Aruanda

Paula acomodou-se no pequeno banquinho, olhou para as belas imagens que ficavam no altar e cumprimentou meio desconfiada a entidade:
-Boa noite.
-Boa noite. O que atrás aqui, minha senhora?
Paula sem titubear foi direto ao assunto:
-Ouvi falar que seus trabalhos são dos bons. Estou precisando de uma magia boa pra trazer o homem que amo de volta. 
Padilha soltou uma estridente gargalhada e em seguida comentou:
-Olha, minha senhora, até faço magia sim. E magia das boas. Só que não faço amarração de jeito nenhum e nem recomendaria que você fizesse.
Paula não conseguiu disfarçar a cara de decepção. Contava com aquele trabalho de magia para ser feliz no amor. E agora a entidade vem dizer que não faz! Não conteve a curiosidade e perguntou em tom de deboche:
-E qual o problema de fazer magia para atrair o homem que amo? Tem tanta gente que faz e dá certo. 
-Eu não sou todo mundo e também não estou pedindo pra você não fazer. A vida é sua e você faz o que achar melhor dela. Apenas estou  te dando um conselho. Faça o que achar melhor.
Paula sentiu que a entidade não ia mimá-la como seus familiares costumavam fazer. Meio sem graça pediu desculpas e continuou:
-É que estou desesperada e quero meu amor de volta.
Padilha deu uma tragada no cigarro e soltou a fumaça no ar. Deu mais uma gargalhada e falou na lata:
-Olha, Paula, o amor é uma coisa boa. Mas isso ai que você sente não é amor: é carência. E você não vai curar essa carência fazendo macumba pra amarrar seu homem. E mesmo que isso fosse possível, acredite, você não seria feliz de jeito nenhum. Se você tem que amarrar uma pessoa pra ficar com você é porque ela não te ama. Pois quem ama fica com alguém por livre e espontanea vontade. E quem paga pra amarrar é porque não se valoriza. E sem falar que fazer macumba de amarração tem consequências nada agradáveis. 
-Mas eu não consigo ficar sem ele. A minha vida está vazia e meus dias são tristes e sem graça -disse Paula já em prantos.
Padilha fez uma rápida pausa para que a consulente pudesse se recompor.
-Na verdade, Paula, o que você está precisando mesmo não é do amor desse rapaz. Mas, sim, do seu próprio amor. No fundo, você nem gosta dele tanto assim. Por você está carente e entregue ao auto bandono, acaba refletindo nele a falta que você sente de si mesma. O que te machuca e faz doer não é a falta do amor dele, mas do seu próprio amor. Pare, então, de ter piedade de si mesma. Levante a cabeça e comece a se amar. Perceba que quanto mais você se rebaixa mais ele se afasta. Já parou pra pensar que as pessoas não te amam, apenas te toleram? Não que você não mereça ser amada. Não é nada disso. Você é uma mulher bonita, inteligente e digna de ser amada. O que acontece é que você se coloca na condição de menos, se desvaloriza e ainda se trata feito uma porcaria. Assim fica difícil amá-la. Concorda?  
Paula permaneceu em silêncio por alguns segundos. Nunca tinha parado para analisar sua situação por esse ângulo. Não tinha como negar que se tratava mal, que se desvalorizava e que não gostava de si mesma. Além domais, tudo que tinha feito até então em nome do amor, não deu em nada. Carlos estava cada vez mais distante e indiferente.
=Você é uma mulher jovem, bonita e tem a vida inteira pela frente. Porque, então, se enterrar viva nesse auto abandono se podes dar a volta por cima? Se Carlos não te ama, certamente, outro homem há de amá-la. Não desperdice mais seu precioso tempo com ilusões que apenas lhe fazem sofrer. Acredite, meu bem, você merece coisa melhor. Você merece uma amor que seja real e que te alimente a alma.
Paula abriu um tímido sorriso.
-Veja como você fica tão bonita sorrindo! Então, menina, esquece essa ilusão com Carlos e refaça sua vida. Compre umas roupas novas e decotadas e vá dançar. Com esse cabelo maravilhoso, tenho certeza de que rapidinho vai aparecer pretendentes. Ame sem drama que o amor fica mais gostoso.
-Você está certa, Padilha, sou mesmo muito dramatica. Acho que por isso que meus relacionamentos não deram certo. Mal conheci Carlos e já fiz um monte de fantasia com ele. Sempre agi assim em relação a homem.
-Por isso que sofre desse jeito. Ao invés de curtir o amor enquanto ele acontece na sua vida, você faz dele seu inferno pessoal. Amor, meu bem, é pra se divertir e não pra sofrer. Poucas mulheres entendem isso. 
Se divertir no amor? Conceito mais louco esse. Pensava Paula com seus botões. Mas fazia sentido sim. Afinal de contas, pra que serviria o amor se não fosse pra proporcionar alegria? Pra sofrer, como vinha sofrendo até então? Aliás, já estava muito cansada de sofrer tanto por amor. 
Paula levantou-se e agradeceu pelos sensatos conselhos que recebera da entidade. Sentia-se mais forte e disposta a recomeçar sua vida. Prometeu a si mesma que pela manhã iria sem falta ao cabeleireiro. Depois passaria numa loja e compraria um belo vestido e de preferência decotado. Ser amada por um homem é muito bom, mas ser amada por si mesma era melhor ainda.

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